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UFBA promove campanha para ajudar as vítimas do ciclone Idai em Moçambique

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“Falta de tudo. Não tem roupa, não tem comida, não tem nada”, afirmou o estudante de Moçambique Sérgio Nhapulo, doutorando em Física pela UFBA, para descrever a situação atual de seu país, que foi devastado pelo ciclone Idai no último dia 14 de março. Ventos de cerca de 200 km/h e uma série de enchentes provocaram a morte de centenas de pessoas, deixando milhares de desabrigados. O ciclone também afetou Zimbábue e Maláui. De acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas, foram atingidas mais de 2,8 milhões de pessoas no Sudeste da África, que enfrenta agora ameaças de graves epidemias.

Um grupo de estudantes de Moçambique que está na UFBA, a maior parte em cursos de pós-graduação, esteve com o vice-reitor Paulo Miguez em reuniões realizadas nos dias 25 de março e 03 de abril, com o propósito de articular uma campanha para arrecadar doações para as vítimas do desastre. A UFBA acolheu imediatamente à proposta, sensibilizada e ciente da necessidade de contribuir para com as pessoas atingidas.

A ideia inicial do grupo de estudantes era organizar uma campanha para coletar alimentos não perecíveis e roupas. Para tanto, seria necessário identificar instituições que pudessem fazer o envio das doações. As organizações internacionais contatadas, conforme explicou o vice-reitor, também estão promovendo campanhas de doação de recursos em contas bancárias e sem logística para enviar bens materiais.

A solução encontrada foi arrecadar doações em dinheiro. Atendendo à recomendação do escritor moçambicano, Mia Couto, o saldo recolhido será canalizado à Cruz Vermelha e à Fundação Fernando Leite Couto – que leva o nome do pai de escritor e da qual Mia é o presidente.

A conta corrente UFBA MOÇAMBIQUE – Banco do Brasil, Agência 3832-6, conta corrente 37248-X – está aberta pelo período de 90 (noventa) dias, para que os membros da Comunidade UFBA (estudantes, pessoal técnico-administrativo e professores) e todos os demais interessados em ajudar aos milhares de cidadãos afetados pelo ciclone possam fazer suas doações.

“Queremos fazer a nossa parte, porque sentimos essa necessidade”, disse Sérgio Nhapulo, que agradeceu o gesto da UFBA e disse que a instituição está apoiando uma causa justa. Ele também alertou que o sofrimento da população permanece após a passagem do ciclone em razão de uma série de doenças, como, por exemplo, a cólera, que já se alastra pela região. “O número de doentes está crescendo bastante”, lamentou.

Paulo Miguez ouviu as demandas dos estudantes para entender a melhor maneira de ajudar e expressou pesar e o desejo de solidariedade em um momento tão difícil. “Vivi por 11 anos na cidade de Maputo, em Moçambique, entre 1982 e 1993, onde nasceram meus filhos. Me sinto também um cidadão moçambicano”, disse ele, que trabalhou no país como diretor financeiro da Empresa Nacional de Telecomunicações.

Miguez relembrou momentos complicados que vivenciou durante esse tempo no país. Primeiro em 1985, quando um paiol de munição do exército explodiu provocando a morte de trabalhadores, e em 1986, por conta da passagem de uma depressão tropical – fenômeno ligeiramente inferior à categoria de ciclones – que provocou grande caos, deixando a capital do país sem água e sem luz por 15 dias.

Na sexta, dia 5, Miguez participou junto com os estudantes de programa de rádio na Metrópole, do apresentador Mário Kertész, para lançar a campanha e fazer um apelo público sobre a importância de colaborar. (Confira aqui: https://www.metro1.com.br/audios/15838,paulo-miguez.html). Outras ações foram pensadas para dar mais visibilidade a causa, como a participação dos estudantes nos eventos da Semana da África na UFBA e da Semana de Alto Estudos Jurídicos da Faculdade de Direito da UFBA.

A campanha na UFBA foi articulada com a participação da professora Elisabeth Ramos, Assessora para Assuntos Internacionais da UFBA, representantes da Pró-reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae), da Pró-reitoria de Pesquisa, Ciência e Inovação (Propci), e da Oficina de Relações Internacionais da Faculdade de Direito. A sua divulgação será realizada em parceria com o movimento estudantil, através do Diretório Central dos Estudantes (DCE), e com o APUB Sindicato – Associação dos Professores Universitários da Bahia, e Assufba – Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos da Universidade.

 

Estudantes relatam situação em Moçambique

O estudante da pós-graduação Domingos Bacião, da Faculdade de Direito, afirmou que o ciclone teve a proporção de um fenômeno jamais visto na região, causando danos extremamente graves, com a perda de muitas vidas. Segundo as Nações Unidas, foi o pior desastre climático no hemisfério sul.

“Tentamos entrar em contato com as nossas famílias, mas foi quase impossível, pois as linhas de telefone e internet foram danificadas”, revelou ele, que teve bastante dificuldades para estudar ou fazer qualquer outra coisa no Brasil até conseguir notícias da família.

Jeremias Donane, também estudante de Direito, disse acreditar que o número de pessoas mortas está sendo subestimado e é muito maior do que o anunciado oficialmente. Ele criticou a demora de socorro e denunciou a vulnerabilidade da população diante da falta do suporte necessário, com muitas pessoas ainda esperando resgate em regiões inundadas.

O estudante agradeceu o apoio da universidade e ressaltou a importância que ela tem em sua trajetória acadêmica: “A UFBA tem feito muitas coisas por nós. Fomos muito bem recebidos desde o processo seletivo, na chegada à universidade. Temos uma gratidão eterna”.

O grupo participou de um evento promovido pela Oficina de Relações Internacionais no dia 25, com a participação da Embaixadora Chefe do Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores na Bahia, Marcela Nicodemos, que abordou o cenário internacional e os desafios que se apresentam à diplomacia brasileira. Nos próximos dias, os estudantes participarão de uma série de atividades para ajudar a promover a campanha em eventos e programas de rádio.