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Com problemas de infraestrutura, Museu de Arte Sacra da UFBA é fechado ao público

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No dia 10 de agosto de 1959, foi inaugurado o Museu de Arte Sacra da UFBA. Após completar 65 anos no último sábado, uma decisão na contramão das festividades fez-se necessária: a Reitoria da Universidade comunicou a necessidade de fechamento do espaço para todas as finalidades em razão dos riscos relacionados à infraestrutura, principalmente nas instalações elétricas e nos telhados, que ameaçam a segurança do local e de seu patrimônio artístico.

O reitor Paulo Miguez explica que o fechamento do Museu se tornou imprescindível como forma de prevenção de uma catástrofe semelhante à do incêndio no Museu Nacional, vinculado à UFRJ, que ocasionou perdas imensuráveis e irreparáveis ao patrimônio histórico do país. A decisão foi chancelada pelo Conselho de Ensino Superior em 30 de julho deste ano. Em um cenário de perdas orçamentárias às Instituições de Ensino Superior, que se acumulam ao longo dos anos, não há verba para o custeio da recuperação do Museu.

O Museu de Arte Sacra da UFBA abriga a maior coleção de arte sacra barroca da América Latina e está localizado em um destacado conjunto arquitetônico seiscentista brasileiro. Entre pinturas, azulejaria, ourivesarias, mobiliários, destaca-se também sua localização privilegiada, com uma bela vista para a Baía de Todos os Santos. A edificação possui área total construída de 5.250m², inserida em uma área livre de 8.000m². Dentro do Museu, encontra-se a Igreja de Santa Teresa D' Ávila, com traçado fortemente renascentista, ornamentos em formas simétricas e harmoniosas, por meio de uso de arcos, abóbodas, cúpulas e colunas. “Diante de tamanha beleza, é difícil imaginar um cenário de deterioração”, afirma a diretora do Museu, María Herminia Hernández.

Os problemas foram identificados em vistoria da Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sumai) da UFBA e da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder). Esta última, que já vem trabalhando ativamente no restauro do telhado da Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, estendeu seu olhar para o Museu. O levantamento técnico apontou que a cobertura apresenta riscos pontuais de desabamento e fissuras de ordem estrutural. Já a infraestrutura predial oferece risco para o imóvel e o acervo. “Rede elétrica, combate à incêndios, ar-condicionado, cabeamento estruturado, entre outros”, enumera a superintendente de Meio Ambiente e Infraestrutura, Tatiana Dumet. Para a recuperação completa, é necessário um aporte em torno de R$ 7 milhões. Desses, são necessários R$ 3 milhões para a reforma completa do telhado e R$ 1,5 milhão para a renovação total do sistema elétrico.

Unidos em prol do Museu, o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura de Salvador já é uma realidade. O reitor Paulo Miguez informou ao Executivo Estadual e Municipal sobre o fechamento do Museu de Arte Sacra da UFBA e ambos garantiram recursos para a recuperação do Museu. A Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) já deu início ao levantamento técnico das necessidades de recuperação. E a Prefeitura, através do Secretário de Cultura e Turismo (Secult), Pedro Tourinho, manifestou a disposição para atuar na requalificação do espaço.

Patrimônio da Humanidade

Reconhecido como patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) desde 1938 e declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1985, a sede do Museu de Arte Sacra da UFBA tem uma rica história. Antigo Convento de Santa Teresa D’Ávila, fundado pelos Carmelitas Descalços em 1697, abrigou o Seminário Arquiepiscoal e serviu também de alojamento para as tropas portuguesas nas lutas pela Independência da Bahia. Desligado da ordem em 1840, ficou abandonado e em ruínas até 1959, quando o primeiro reitor da UFBA, Edgard Santos, instalou no local o Museu de Arte Sacra da Bahia (MAS) por meio de um convênio com a Igreja Católica, criando o primeiro museu universitário do Estado. Essa parceria foi renovada em 2017, com duração semelhante ao primeiro acordo, 60 anos.

O Museu é um importante espaço de guarda, pesquisa e exposição, é, assim, um local para o olhar o passado, refletir sobre o presente e mirar o futuro, sobretudo quando se pensa num museu universitário, com importante papel no ensino, na produção científica e na extensão. Além da igreja, sacristia, coro, capela interior, refeitório e biblioteca com cerca de cinco mil títulos, disponíveis para consulta, o conjunto dispõe de 16 salões, 12 salas, 10 celas, longos corredores e galerias e duas escadarias de pedra com painéis de azulejos do século XVII nas paredes.