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Historiador britânico Hakim Adi debate pan-africanismo em abertura de curso na UFBA

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Livro “A interessante narrativa da vida de Olaudah Equiano, ou Gustavus Vassa, o africano”Olaudah Equiano (1745 -1797) narrou os terrores e a violência sofridos por ele, durante o período em que foi escravo, no livro “A interessante narrativa da vida de Olaudah Equiano, ou Gustavus Vassa, o africano”, publicado em 1789. Nascido na província do Eboé, área que hoje é o sul da Nigéria, foi sequestrado aos 11 anos, transportado para os Estados Unidos, posteriormente foi vendido a um oficial inglês o rebatizou de Gustavus Vassa. Ele conseguiu comprar sua própria liberdade e se tornou um nome importante na luta pelo fim da escravidão.

A trajetória de Equiano abriu a série histórica sobre o pan-africanismo – movimento centrado na emancipação social, econômica, cultural e política dos povos africanos, incluindo os da diáspora africana – feita pelo historiador da Universidade de Chichester, no Reino Unido, Hakim Adi, durante a abertura do segundo ciclo do curso marxismo e pan-africanismo. A palestra foi realizada na Faculdade de Direito, na terça-feira, 26 de março.

Hakim Adi é autor de oito livros, entre eles Pan-Africanismo, A History (2018), que foi traduzido para o português e será publicado pela Edufba em novembro. Com forte sotaque britânico e fala pausada, ele narrou trechos da luta de negros e africanos por liberdade e autonomia, sendo traduzido por Raquel de Souza.

A história de Olaudah Equiano – que criou a organização Os filhos da África e colaborou para o Ato Contra o comércio de Escravos de 1807 – é destaque por ser um dos primeiros autores pan-africanistas, por mais que em sua época ainda não existisse essa nomenclatura, conforme destaca o historiador.

Os filhos da África afirmavam que “se você luta em prol dos direitos dos africanos, deve lutar pelo direito dos trabalhadores”. Para eles, era necessário lutar pelos direitos de todos. “Essa é uma abordagem política bastante progressista, até hoje as pessoas não compreendem que essa revolução importa”, afirmou Adi.Outras grandes personalidades foram lembradas. W. E. B.” Du Bois (1863 – 1963), sociólogo e historiador, nascido no interior do estado de Massachusetts, foi um líder mundial do movimento pan-africano. Ele fundou a Associação Americana para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês) e foi um dos principais idealizadores do movimento Niagara, voltado a luta pelos direitos políticos dos negros, criado em 1905.

No congresso pan-africano, realizado em Paris, em 1919, após o fim da Primeira Guerra Mundial, Dubois era uma das figuras centrais. O encontro tinha como pauta a discussão da vontade do bloco vencedor, França, Inglaterra e seus aliados, que de ter domínio sobre a África.

“Dubois e outros apresentaram que os africanos deveriam falar por si próprios, que deveriam governar, sob a custódia dos grandes poderes. Mas a Inglaterra e França não concordaram”, contou.

A narrativa trazida por Adi não ficou exclusivamente no universo negro masculino. O protagonismo de mulheres negras, muitas vezes silenciadas pela história hegemônica, foi enaltecida. Sobre o congresso pan-africano, de 1919, por exemplo. Dubois, por ser uma figura famosa em sua época, leva os créditos da iniciativa, quando, “na verdade, foram organizados por mulheres”, conforme novas pesquisas demonstram, disse Adi.

Durante os primórdios do movimento pan-africanista, ele citou a primeira Conferência Pan-Africana em 1900, na cidade de Londres. Uma iniciativa a Associação Africana, fundada em 1897, cujo principal líder foi Sylvester Willians (1869 – 1911), um advogado de Trinidad, organizador do evento que discutiu principalmente as problemáticas vividas pelas populações negras das colônias.

“Mas, como é recorrente na história, a pessoa que inspirou Willians foi uma mulher. Alice Kinloch, da África do Sul, foi quem inspirou a implementação da associação africana e a formulação da conferência. Então podemos afirmar que a fundação do movimento pan-africanista moderno foi feito por uma mulher”, assegurou.

Para além de nomes importante do movimento, ele destacou um ato pan-africanista, a Revolução Haitiana (1791-1804), uma rebelião de escravos e negros libertos pelo fim da escravidão e direitos iguais entre negros e brancos. Como resultado, o Haiti, antiga colônia francesa de Saint Domingue, conquistou a independência e a liberdade de seu povo.

Adi repercute os ensinamentos de Amílcar Lopes Cabral (1924 – 1973 ), nascido em Guiné-Bissau, que afirmava sobre a necessidade de as pessoas aprenderem por si próprias, inclusive por meio de seus erros. “Aqueles que, entre nós, estão interessados na democracia, com isso quero dizer um governo do povo, pelo povo e para o povo, esse governo demanda que as pessoas empodere a si mesmas e como é que nos empoderaremos se estamos esperando um líder? “, questionou.

“É importante que todos nós sejamos líderes, porque se tudo depende de uma pessoa e essa pessoa está sendo de alguma forma ou de outra reprimida, nós não podemos ter situações as quais as lutas e os movimentos desmoronem”, alertou Adi.