O professor e jornalista Othon Jambeiro depôs na quarta oitiva da Comissão Milton Santos de Memória e Verdade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizada no último dia 11/03, no auditório da Faculdade de Comunicação (Facom), em Ondina. Na sessão conduzida pelo professor Emiliano José, o presidente da comissão, Othon Jambeiro que foi ativista do movimento estudantil nos anos de 1960, destacou em seu depoimento a perseguição de que foi vítima por parte de autoridades militares e policiais da época.
Preso em dois momentos – o primeiro, quando transitou entre o quartel do Barbalho e o 19º Batalhão de Caçadores (19-BC), durante 6 meses; e o segundo em 1968, com o Ato Institucional - 5 – o depoente externou indignação contra o arbítrio das organizações militares sobre as liberdades civis. “Você não tem direito à sua vida”, disse Othon quando compartilhava parte da memória do que foi o regime militar em sua existência.
O professor iniciou sua militância estudantil ainda no movimento secundarista, quando colaborava como jornalista para o jornal Folha da Bahia. Era membro oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1964, teve a casa dos pais e de amigos invadidas em Senhor do Bonfim pela Polícia Militar, instituição que atuava naquela região à sua procura, acusado de ter feito um curso de guerrilha na China e que, de lá, teria voltado com patente do exército chinês. Tal alegação era o motivo da sua procura - vivo, ou morto.
Já como técnico-administrativo da UFBA e, posteriormente, como professor, Othon relatou emocionado a atitude de pessoas que se portaram de forma digna e forte frente às investidas dos agentes da repressão como os reitores Roberto Santos (1967-1971) e Lafayete Pondé (1971-1975). “Em 1968, fui convidado a assumir a assessoria de imprensa da instituição”, onde Othon permaneceria até sua segunda prisão, no fim daquele ano, retornando posteriormente ao quadro institucional.
Oitivas da Comissão da Verdade da UFBA
Desde fevereiro, as oitivas da Comissão da Verdade da UFBA já colheram sete depoimentos, dentre eles os de Manoel Castro, José Carlos Capinan, Amilcar Baiardi, José Afonso Maia, Sérgio Gaudenzi e de Roberto Argolo. Os testemunhos são consolidados em relatório que seguirá para a Comissão Nacional da Verdade.
As oitivas acontecerão todas as terças-feiras, até o mês de abril, no auditório da Faculdade de Comunicação. Integram a Comissão Milton Santos de Memória e Verdade os estudantes Jéssica Santos e Leandro Coutinho; os professores Emiliano José, Ilka Bichara, Iracy Picanço, João Augusto de Lima Rocha, Olival Freire Júnior e Othon Jambeiro, que também a preside; além do técnico-administrativo Umberto Bastos.