No último dia 26 de janeiro, após dez dias de palestras intensivas e deliberações, que avaliaram um total de 377 obras, foram anunciados na sala Che Guevara os vencedores do Prêmio Casa de las Américas. Isto conclui a 53ª edição do concurso literário mais antigo do seu género no continente. Entre as 33 obras concorrentes no gênero Literatura Brasileira, o júri composto por Regina Crespo e Evando Nascimento (Brasil) e Rodolfo Alpizar (Cuba) decidiu, por unanimidade, atribuir o prêmio para a obra “O Alufá Rufino – Tráfico, Escravidão e Liberdade no Atlântico Negro (1822-1853)”, de João José Reis, Flávio Gomes dos Santos e Marcos J. M. de Carvalho.
Este livro, escrito a seis mãos por especialistas na história da escravidão no Brasil, reconstitui a movimentada biografia de Rufino José Maria, um africano muçulmano, e faz uma abrangente análise do contexto histórico dos lugares onde ele viveu e que visitou, no Brasil, na África e sobre as água do Atlântico a bordo de navios negreiros, século xix.
Nascido no antigo reino africano de Oyó, escravizado na adolescência por um grupo étnico rival, adquirido por traficantes brasileiros e levado para a Bahia, vendido para o Rio Grande do Sul onde comprou sua alforria, embarcado no Rio de Janeiro para Angola, capturado pelos ingleses e levado a Serra Leoa (onde esteve duas vezes), o protagonista destas fascinantes páginas de história atlântica teve sua biografia dividida e recomposta pelo oceano. A vida de Rufino foi plena de aventuras e desventuras. Após conseguir sua alforria, tornou-se cozinheiro assalariado de navios negreiros e, na maturidade, no Recife, alcançou o posto de alufá, guia espiritual da comunidade de negros muçulmanos.
João José Reis é professor da UFBA e autor de Rebelião escrava no Brasil, entre outros livros.
Flávio dos Santos Gomes é professor da UFRJ e autor de Histórias de quilombolas, entre outros livros.
Marcus J. M. de Carvalho é professor da UFPE e autor de Liberdade: Rotinas e rupturas do escravismo e de numerosos artigos sobre a história da escravidão no Brasil.
